Perplexidade

Olhamos com perplexidade, tomados de espanto e até mesmo aterrorizados, para o quadro político atual do Brasil. A cada dia que se inicia, uma enxurrada de notícias e novidades mais estapafúrdias, mais estrambólicas, mais extravagantes do que as outras. São juízes e promotores de justiça cometendo ilegalidades e arbítrios, desrespeitando as leis e até a Constituição Federal; são ministros do Supremo Tribunal Federal dando declarações desairosas e fazendo ameaças a este ou aquele representante dos demais poderes; são políticos de todos os quadrantes diuturnamente acusados de participação em roubalheiras e esquemas, inclusive ministros de Estado; são manifestações de rua comandadas pela mídia. que se dizem contrárias à corrupção, mas que defendem o efetivo governo dos corruptos! É de assustar qualquer um.

Hoje, para não ficar diferente, estamos sendo brindados com a notícia de que o senador Renan Calheiros resolveu descumprir uma liminar do ministro Marco Aurélio, do Supremo, que recomendou o seu afastamento da presidência do Senado. Apoiado por toda a mesa diretora da casa, Renan teria dito que pretende aguardar a decisão do plenário do STF sobre o caso. Segundo alguns juristas consultados pela mídia, o descumprimento de uma ordem judicial leva necessariamente à prisão. Mas isso só poderia ocorrer, de fato, numa circunstância em que as instituições estivessem sendo realmente respeitadas. Não é o caso do Brasil de hoje.

Tudo isso vem acontecendo à sombra de uma delicada situação da economia, que teima em não reagir às “medidas de estímulo” adotadas até agora e exibe indicadores quase alarmantes (PIB em franco declínio, desemprego crescente e queda da renda dos trabalhadores, só para citar alguns). Começam a aparecer nos noticiários as primeiras manifestações de preocupação dos “empresários” brasileiros quanto á demora da retomada do crescimento econômico, que havia sido prometido como um bálsamo do golpe. “Tira a Dilma e tudo será maravilhoso!” O mais deprimente e constrangedor é que tenham acreditado nisso. Será que esses cidadãos que se dizem empresários não possuem conselheiros, assessores ou assemelhados que lhes possam explicar a natureza das coisas? Qualquer noção básica de história econômica serviria para fornecer casos e exemplos ilustrativos e inspiradores. Não precisava ser um gênio para perceber que o caminho tomado pelos golpistas acabaria levando a esse abismo trágico em que nos encontramos agora. Como puderam não ver isso?!

Ah, sim, as principais medidas propostas pelo desgoverno golpista destinam-se a retirar direitos dos trabalhadores em praticamente todos os campos: de um lado, por meio da PEC 55, pretendem congelar os investimentos públicos em saúde e educação (além de outras áreas) por exatos vinte anos, penalizando uma geração inteira, que ficará sem oportunidades para melhorar a sua qualificação profissional e sem assistência básica; de outro, ampliam o tempo de contribuição para a aposentadoria, levando a maioria dos brasileiros mais jovens a uma vida extenuante de trabalho até idade avançada. Embora receba o apoio obsequioso da mídia, a alegada crise da previdência social brasileira não é reconhecida, entre outros, por uma pesquisadora qualificada da UFRJ, a professora Denise Gentili, cuja entrevista recomendamos abaixo. Em vez de simplesmente cortar os benefícios, como quer fazer o golpismo, cumpre ao Estado desenvolver uma política econômica que favoreça o crescimento da economia e promova o aumento dos recursos para o bem estar da população. Ou seja, há alternativas!

A reação popular a essas desmedidas vem sendo confrontada por uma violência policial desproporcional. Como era de se esperar. Diante da sua ilegitimidade, o atual governo do Brasil só encontra na brutalidade implacável da polícia uma resposta à altura das suas necessidades de garantir uma mínima sobrevida diante de tamanhas injustiças. Hoje, para não fugir à rotina, o centro do Rio de Janeiro voltou a ser tomado pelas manifestações de servidores do Estado que estão com os seus salários atrasados. Reclamam um direito mais do que legítimo — o de receber o pagamento pelo trabalho realizado. Não podem ser tratados como bandidos ou arruaceiros. Mas, hoje, fomos obrigados a ver policiais atirando contra os manifestantes do alto das janelas de uma igreja. Uma igreja!

O Estado do Rio de Janeiro se declara falido. Não consegue nem pagar os seus servidores corretamente. Mas o ex-governador está preso, acusado de corrupção. E a mulher dele acabou de ser levada para a cadeia, por suspeita de se beneficiar de meios escusos para obter vantagens e enriquecer…

 

http://linkis.com/noticias.uol.com.br/2y4mx

http://linkis.com/www.ocafezinho.com/2/AYPJG

http://www.dw.com/pt-br/senado-se-recusa-a-afastar-renan-da-presid%C3%AAncia/a-36670924